Dicas de Cultura Inútil

Se você tenta ler Nietzsche ou Joyce e não consegue, tenta assistir Godard ou Bergman e dorme no meio, não diferencia Monet de Manet e nem sabe quem foi Emmanuel Kant, PARABÉNS! Você está no blog certo!

28 abril, 2008

Curtas da Pixar 5: Knick Knack

Antes de falar sobre Knick Knack (idem, 1989), é preciso esclarecer o contexto. John Lasseter e a Pixar tinham gasto muito tempo, energia e dinheiro para fazer Tin Toy. Assim que o desenho fez sucesso, o medo e a incerteza foram embora e, junto com a onda de alívio que invadiu todos, surgiu a idéia de fazer um curta mais anárquico e sem compromisso, que homenageasse os desenhos do mestre Chuck Jones (Papa-Léguas).

Começando pelo título (de acordo com o Dicionário Oxford, knick knack é um pequeno objeto sem valor, usado como ornamento. Ou seja, enfeite, tralha, treco, etc), já pode ser notada uma certa irreverância. Em seguida, aparecem vários souvenirs de locais paradisíacos fazendo festa na prateleira. Um deles, uma loira sexy de biquini, chama para a gandaia um solitário bonequinho de neve.

Até aí tudo bem, só que ele está dentro daqueles globos de vidro cheios de água e não consegue sair de lá. Então, o coitado parte para o tudo ou nada, apelando para o jeito ACME de resolver problemas. Entre os 5 curtas de Pixar feitos antes de Toy Story, este é de longe o mais engraçado. Pode conferir:

27 abril, 2008

Curtas da Pixar 4: Tin Toy

O próximo curta do DVD "Pixar Short Films Collection - Volume 1" é, com certeza, o início da Pixar como um estúdio de animação, embora na época eles não soubessem disso. Tin Toy (idem, 1988), segundo John Lasseter, foi inspirado por um vídeo caseiro do sobrinho dele, na época um bebê de um ano, brincando. Ao ver os brinquedos babados e atirados para todo lado, Lasseter teve a brilhante idéia de animá-los para ver como reagiriam naquela situação. Se você lembrou de Toy Story (idem, 1995), considere esse curta uma semente.

Basicamente, o herói é um boneco vestido de músico de coreto, que toca vários instrumentos conforme se movimenta . Ele precisa fugir de um nenê que quer apenas "brincar" (um eufemismo para aniquilar). A maior parte do filme trata dessa dinâmica, com destaque para o grupo de brinquedos escondidos embaixo do sofá. É uma história simples e divertida que foi bem executada, mesmo que o tal bebê seja uma criatura meio bizarra e artificial, parecendo um dinossauro animado em stop motion.

O sucesso de Tin Toy foi enorme, atingindo pela primeira vez um público que não trabalhava com informática. Em 1989, o desenho ganhou o Oscar de Melhor Curta Animado e abriu os olhos de Hollywood para o potencial da animação computadorizada, facilitando bastante o financiamento de um longa metragem. E o resto é história...

26 abril, 2008

Curtas da Pixar 3: Red's Dream

Retomando a série de comentários sobre os curtas da Pixar (Pixar Short Films Collection - Volume 1), chegou a hora de falar sobre "Sonho de Red", numa tradução não-oficial de Red's Dream (Idem, 1987). Esse filme foi feito com 2 objetivos: demonstrar a capacidade do hardware da própria empresa e explorar o conceito do Pathos, isto é, induzir uma resposta emocional da platéia. Eben Ostby e William Reeves cuidaram do primeiro, John Lasseter do segundo.

De cara, a evolução da tecnologia chama a atenção. Aparecem prédios, postes, fios e muita chuva. Essa composição, juntamente com um choroso saxofone, estabelece o clima sombrio e triste da história, que envolve um monociclo esquecido numa loja de bicicletas. De repente, aparece uma criatura disforme, que lembra vagamente um palhaço, pedalando num picadeiro. Nesse ponto, eu deixei de acompanhar a narrativa para dar graças a Deus ao avanço da computação gráfica, porque em 1987 a tentativa de animar um ser "humano" era muito grotesca.

Depois que o tal palhaço(?) sai de cena, voltamos à loja e descobrimos, afinal, quem é o Red do título, no final mais melancólico que já vi num desenho da Pixar. Tanto que o desenho fez mais sucesso na Europa do que nos Estados Unidos, dado o gosto nauseante dos americanos por finais felizes.

Mais uma do Daily Motion:

05 abril, 2008

PAPO SÉRIO?

Ultimamente eu penso numas coisas diferentes, do tipo que a gente só pensa quando a vida te atinge de frente. É mais ou menos como aquelas filosofadas que surgem quando um parente (não tão próximo) morre. Parece que, como a dor não é tão forte, a nossa mente encontra finalmente uma brecha para matutar sobre as questões primordiais da humanidade (você sabe: Quem somos? Para onde vamos? etc).

Não, não aconteceu nada de ruim comigo, nem com ninguém próximo, pelo menos que eu saiba (TOC!TOC!TOC!). São pensamentos que brotaram do nada e que se dissipam assim que tento organizar o troço num texto para colocar aqui. Se eu pensasse de maneira linear, era mais fácil de registrar, mas o cérebro humano é uma bosta. A gente pensa de maneira entrecortada, desconexa, fazendo associações tão rapidamente que perdemos o fio da meada antes mesmo de encostar no teclado.

Enquanto a telepatia não chega, precisamos nos esforçar para que os outros nos entendam, com um mínimo de clareza. Vamos, então, do início: Meu irmão, 3 anos mais novo, vai ser pai. Estou com 33 anos e ainda não tenho condições financeiras de colocar um filho no mundo. Sou casado e minha esposa trabalha muito para que possamos ter uma vida decente (leia-se, de classe média, na falta de uma definição melhor para quem não é rico e nem pobre).

Eu também trabalho e, atualmente, estudo que nem louco para conseguir um emprego que pague as contas, sobrando dinheiro para eu gastar no que quiser. Estou ralando como nunca ralei antes, sacrificando-me de verdade para melhorar de vida. Afinal, todo mundo faz isso, não é? Em troca daquela promessa vaga de sucesso e de "felicidade", vendemos nossa alma para quem pagar mais. Não é assim que a coisa funciona?

Pois eu quero pensar além desses rótulos, sair do sistema e ver as coisas como elas são. Somos tão doutrinados a pautar nossa existência pelo que se convenciou chamar de capitalismo, que não paramos para pensar no que está fora. Nós crescemos absorvendo esses valores, acreditando que eles são intocáveis. Aprendemos na escola que "o modo de produção capitalista é aquele em que a classe dominante possui os meios de produção, enquanto o resto apenas contribui com sua força de trabalho".

Reconhecemos isso como real porque é o que vemos na prática, mas nunca questionamos de verdade: "Quem é a classe dominante?", "O que são meios de produção?" e "Quem é o resto?". Os professores marxistas diziam que a burguesia era a classe dominante e que os operários eram explorados por ela, deixando implícito que nós éramos os últimos. Não podemos culpá-los por pensar assim, já que eles ganhavam uma merreca.

Resumindo, temos uma porção de nomes e nenhuma definição. Do modo como eu vejo a coisa, a humanidade começou a dar errado assim que um filho da puta das cavernas, ao invés de sair para caçar o mamute, convenceu os outros a deixá-lo ali para vigiar o local e "cuidar" das mulheres. Esse foi o nosso pecado original, se nossos ancestrais tivessem detonado o desgraçado, talvez a nossa vida estivesse bem melhor hoje.

A constatação é óbvia: uma vez que a sobrevivência do sujeito estava garantida, para que ele ia botar a mão na massa? Era muito mais fácil enganar os outros, fazê-los acreditar que era vantajoso tê-lo no grupo, nem que para isso o cara tivesse que inventar um monte de porcarias que não existiam até aquele momento (religião, filosofia e política, por exemplo). Com o tempo, esse comportamento passou a ser imitado por alguns e acabou perpetuando-se em nossa espécie, já que eles tinham mais acesso às fêmeas. Pronto, nasceu o sistema de muitos que trabalham e poucos que aproveitam.

Alguém tem a mínima dúvida de que, se cada um cuidasse do que é de todos, haveria necessidade de um poder público? Exemplos: Hoje eu vi uma placa de trânsito de mão única, encoberta pelos galhos de uma árvore. Outro dia um caminhão de entulho deixou cair vários tijolos no meio da minha rua. Nos dois casos eu tive vontade de agir, de cortar os galhos e recolher os detritos, mas parei e pensei como isso causaria estranheza aos meus vizinhos. Temos enraizada uma dependência mortal de algo que faça aquilo que ninguém faz.

No mundo moderno, todo mundo quer ser o cara esperto, que fica na caverna enquanto os outros caçam o mamute. E o sistema nos diz o seguinte: ou você nasce na caverna, ou seja, rico, ou, se você matar mais mamutes do que os outros, você pode ficar na caverna. Só que o sistema não sabe que os paquidermes peludos já foram extintos, e que, na prática, estamos caçando uns aos outros.

Dizem que o sistema está se transformando, que as empresas agora tem "responsabilidade sócio-ambiental", que o homem não destrói mais a natureza como antigamente. Existe, sim, um volume muito grande de teóricos que falam isso, e até algumas empresas que tentam implementar ações nesse sentido, mas não podemos nos iludir. Por enquanto tudo não passa de uma jogada de marketing para criar uma imagem mais "humanizada" do capitalismo.

Enquanto a injustiça social e a desigualdade econômica foram a mola-mestra do sistema (Bato na mesma tecla: se você tivesse saúde, moradia, emprego, educação e segurança adequadas, ia ralar que nem um camelo para que?), o mundo vai seguir como sempre foi. Não existe alternativa a curto prazo, a menos que TODOS consigam terminar seu doutorado e garantir um emprego com salário de 5 dígitos. Mas, para isso acontecer de verdade, teremos que criar robôs que reciclem nosso lixo e limpem nossas casas, executando todas as atividades que consideramos "indignas".

Era mais ou menos isso que eu estava refletindo. Eu queria ter colocado mais coisas, sobre conhecer e convencer as pessoas de que você tem o que elas procuram, como funciona esse esquema dentro da grande empresa na qual eu trabalho, mas acho que isso vai ficar para o meu livro. Desde já, conto com vocês para a festa de lançamento, hein? Não Percam!!!